Os pomposos bailes, as ruas enfeitadas e as lojas multicoloridas expondo excêntricas fantasias, a montagem do Galo e da sombrinha gigante, os foliões exibindo suas alegrias precoces, toda a energia no ar, e um frevinho tocando ao longe anunciavam a chegada do carnaval...
E, naquela manhã, o Galo ainda nem havia cantado, mas eu sabia que o Carnaval já havia começado. Ele nunca espera o Galo! Vem bem antes, subindo e descendo as ladeiras de Olinda e sai levando batucadas de maracatu pelas ruas do Recife Antigo.
Nunca havia me entregue ao frevo, mas prometera que nesse Carnaval seria diferente! Então, ignorei as viagens distantes e os acampamentos na mata e me entreguei à sedução e aos gritos apelativos do frevo, que me convidavam, a todo instante para “cair no passo e a vida gozar...”.
Vesti aquela peruca azul das antrolas que estava guardada no armário. Me fantasiei e saí noite afora “chutando latas”, frevando adoidado e seguindo os blocos que passavam arrastando o povo por aí... E, junto com a multidão, eu ia seguindo sem me preocupar com o tempo.
A folia e a alegria me seguiam por toda parte – de manhã até de noite. E sempre aparecia mais um dizendo: “eu quero entrar na folia meu bem, um frevo deste que faz demais a gente se divertir”!
Multidão de cores, movimentos, sons, calor, desejo e muito brilho enfeitavam aquele carnaval alucinante que não tinha hora para acabar! Eu, claro, estava ali, impressionado com tudo aquilo, que apesar de ser da terra, via com muita curiosidade e espanto... e, já que “o frevo é quente, alegria de toda essa gente contente”, continuava a tocar!
Ao som dos caboclinhos e maracatus, ensaiava passinhos aprendidos há muito tempo, esbanjava sem vergonha a desenvoltura maluca do meu corpo, me aproveitando do calor da festa e da alegria intensa que enchia as ruas... Dançando aqui, pulando acolá, gritando ali e cantando um pouco mais para lá, que a alegria não podia acabar!
Ah, se eu soubesse que o carnaval era tão bom assim, teria ousado muito mais cedo, teria seguido muito mais maracatus, ouvido muito mais caboclinhos, dançado muito mais frevo, subido e descido muito mais ladeiras, me espremido e me agarrado em muitos outros becos... chorado muitas outras quartas-feiras e teria aproveitado a coragem e a irreverência de muitas outras fantasias...
Ah, seu eu tivesse aberto mais cedo meus ouvidos e me inspirado no frevinho que tocava juntinho de mim todo ano e notado a magnitude do carnaval...
Sabe, acho que não deveria existir carnaval.
Ou melhor, acho que ele nunca deveria acabar...
Um comentário:
IRREVERENCIAS MIL AO NOSSO POETA JOSAFÁ!!
COMO SE TAMBÉM DIZ: " É TANTA TRISTEZA NO MEU PEITO, DEIXA P´RA LÁ, É CARNAVAL!" DERRUBA A BARRACA, VAMOS FREVAR!
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