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Sejam bem-vindos a este espaço que eu criei para partilhar um pouco do que que chamo de minhas poesias. Espero que seja um lugar agradável e interessante para todos que o acessam. Boa leitura!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

É fácil morrer


É muito fácil morrer, sobretudo quando tudo à sua volta conspira por seu fim. É fácil morrer e este fato transformou a morte em algo tão familiar a ponto de banalizar-se em muitas ocasiões. E a banalização do ato revela-se tão cruel e iníqua a ponto de não poder justificar-se em suas significâncias. Morrem-se em lugares tão impróprios que é preciso perguntar-se: por que? Morre-se na esquina de uma avenida, no trajeto entre a casa e o trabalho, e em muitas outras situações, entre elas: nos momentos de diversão, riso e ódio. Morre-se por bobagens e por vontades. Morre-se porque o outro perdeu o controle de si e antecipou sua morte. Morre-se tão facilmente que tornou-se perigoso – existir. Morre-se todos os dias e sempre porque mata-se todos os dias e sempre. Mata-se também por maldade, por suspeita, por brincadeira, por teste, por dinheiro e, também, por nada. Mata-se porque não compreende-se o valor da vida patrocinada por deuses. Mata-se em qualquer instante e toda a vida está por um triz da morte. A vida e a morte brotando do mesmo solo o tempo todo. Dia desses, enquanto caminhava, foi-me perguntado: “onde houve um homicídio aqui?”. Eu, estarrecido, respondi: “Não sei!”. E não sabia mesmo. A morte passara tão perto e eu, tão absorto na vida, não percebi sua aproximação. O caçador de notícias de morte tinha uma missão a cumprir: divulgar a morte a fim de banalizá-la em suas imperfeições. E eu, tão perto, sentia mais uma vida ir-se e dar lugar a morte anunciada naquele momento. Fora o choque de dois substantivos tão amalgamados a ponto de não saber-se qual era o concreto e o abstrato. Outro dia, eu andava no centro da cidade e encontrei a morte. Fitei-a de perto, assim, em instantes: um gato perdera a vida ali, na esquina, atropelado. Era a vida mais uma vez se dissipando sem anunciar-se, sem ruídos, sem sentido. O gato, assim como o homem assassinado não teria outra vida para usar? Não, decerto. Era a morte nivelando ambos os seres em suas insignificâncias. É muito fácil morrer, pois a vida é frágil e a morte está sempre à espreita, aguardando o momento de desferir o perigoso bote. Morre-se facilmente porque mata-se facilmente. E tudo transforma-se nas mais vis rotinas. Cruel em essência, onde seres tão vivos ceifam a vida de outrem. É a morte banalizando a vida de seu modo mais mesquinho. É fácil morrer porque “viver é muito perigoso”. E eu, desandando-me em saudades, choro pela vida ida de todos os seres que se foram no momento incoerente do ato sedutor e lisonjeador da morte. Assim como a flor despetalada, é a vida que perde-se para a morte: e não há mais volta.

Um comentário:

Rafaela Lima Di Carmim disse...

Esse tema estava em minha mente ha meses a ainda nada consegui transcrever, ao abrir seu maravilhoso blog, fico estarrecida com as palavras, ideias! #AMEI.