Um dia, num final da tarde, sai apressadamente do trabalho para ir ao cinema sozinho. Era um filme recém-lançado que eu queria muito ver, mas havia retardado o momento muitas vezes, por preguiça ou por achar que a sessão começaria tarde demais. Naquele dia saí animado e, por coincidência ou não era uma segunda-feira. Quem vai ao cinema numa segunda-feira? Pois bem. Chegando lá, para minha surpresa havia uma fila gigantesca. E, pasmem, o filme tão desejado havia saído de cartaz – bem, havia sido substituído por outro que rendia mais bilheteria. Não sei se fiquei decepcionado ou contente. Na verdade, nem sei o que passou por minha cabeça. Um anseio e alguns minutos perdidos na fila nem incomodou. Talvez pudesse vê-lo em outro cinema ou esperar para comprá-lo numa loja. Como nenhum outro filme despertou minha atenção, saí caminhando para fora e me alegrei com um delicioso sorvete de baunilha que nem é meu favorito (na verdade, prefiro um misto de chocolate com creme, mas já havia acabado). Enfim, aquela segunda-feira não tinha nada minha nem era pra mim em sua essência momentânea. Uma segunda-feira pode ser substituída por qualquer outro dia – e as esperanças vão se reconstituindo e continuam vivas na gente até a concretização de todos os sentidos. A vivência das ocasiões vai se manifestando no tempo que for propícia para acontecer. Tomei posse do meu outro passo e improvisei uma ocasião para suster a necessidade de rir e chorar sozinho, pois sou herói de mim mesmo- a solidão jamais me negará a importância que carrego em mim.
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