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Sejam bem-vindos a este espaço que eu criei para partilhar um pouco do que que chamo de minhas poesias. Espero que seja um lugar agradável e interessante para todos que o acessam. Boa leitura!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O ônibus

Sempre considerei o transporte coletivo uma comunidade, na qual muitas emoções são expressadas. É nesse tipo de transporte onde vivem-se as situações mais cômicas e dramáticas. Quem dele depende cotidianamente para locomover-se nos centros urbanos, sabe o que quero dizer. O ônibus é uma espécie de parte de nossa casa ou pedaços de várias reunidas num só lugar. É um espaço de trocas culturais intensas (de vários os níveis). No ônibus, já vi serem comemorados vários aniversários; inícios de romances; brigas conjugais; amassos entre pessoas do mesmo sexo e do sexo oposto; já presenciei paqueras entre condutores e passageiros; ouvi, muitas vezes, gritos e choro de criança; cenas de desrespeito com os limites dos outros; encontros calorosos; conheci pessoas interessantes com as quais mantive amizade e compartilhei muitas histórias e estórias. Ônibus (o que eu mais uso) é palco de muitas encenações reais e fictícias; é o local onde os artistas da vida e da fome se faz presente: uns pedem para comer, outros roubam para comer; uns cantam para comer, outros dançam para comer; muitos mentem para fazer sabe lá o quê! Enquanto o ônibus faz seu itinerário por vias retas, tortuosas ou longas, a sinergia da vida vai constituindo-se com muitas intensidades. O transporte coletivo é um locus de trocas de experiências: dores, alegrias, sucessos, fracassos, sonhos, enfim. No ônibus, já busquei olhares e evitei outros, por receio, desejo ou medo. Já estive tão próximo ao corpo do outro; o outro já esteve tão próximo ao meu corpo. Nele, já sorri muitas vezes sem motivo; também já amaldiçoei a existência. No ônibus, aprendi muitas canções novas; já tive ódio de outras. O ônibus já foi objeto do meu refúgio e motivo do meu desespero. Já subi num ônibus por vontade, já desci de muitos após reconhecer o erro. É do ônibus que vejo muitas coisas acontecendo lá fora enquanto faço e refaço meu percurso repetido do meu ir-e-vir diário. É o ônibus propulsor de emoções: cansaços, delírios, repulsa. É, também, onde encontramos os mais diversos cheiros: os básicos, os clássicos, os contemporâneos, os afrodisíacos e, também, os repulsivos (fortes ou mistos). Acima de qualquer coisa coisa, o transporte coletivo é um espaço onde se manifesta a solidariedade: pela grávida, o idoso e o deficiente sem assento onde descansar; pelos pedintes de todos os tipos, lugares e origens – sem falar em suas histórias/estórias e motivos. É o locus da s-o-l-i-d-a-r-i-e-d-a-d-e! Muitos (inclusive eu), já abriu a carteira para atender a um pedido ou realizar uma compra de um artigo que não se tinha necessidade somente para ajudar o outro trabalhador. Mas, para mim, a maior afirmação da ideia do transporte coletivo (ônibus) como uma comunidade e locus da solidariedade foi quando, por azar ou insígnia da nobreza de toda a irmandade, perdi minha carteira num ritual de apertos e balanços. Quem a achou se revelou na personificação de um ser distinto e leal: sem me conhecer, procurou-me no mundo cibernético e terminou encontrando-me para a entrega do tão esperado objeto. Sem dúvida, o transporte coletivo é o lugar onde forças distintas se movem – e onde seres expressam ou escondem sua grandeza.

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