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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O amor e suas ambições

Quem disse que amamos?
A invenção do amor não passa de uma fraude e o ato de amar é uma atitude inescrupulosa e egoísta, capaz de transformar todo sentimento num vício cuja necessidade é instalada em nós, como um vírus potente que tende a se reproduzir e invadir todas as partes do corpo – e da mente - e dominá-los por completo.
Não amamos. Esse fato é óbvio, mas propositalmente fechamos os olhos e ignoramos as nossas próprias atitudes. O amor, na verdade, é uma construção coletiva, social – bem pouco pessoal e psicológica – e todos são incentivados a buscá-lo, onde e em quem ele estiver. Como invenção, passamos a necessitar dele. Logo, o amor está em nós, contudo, não pode se manifestar em sua plenitude na solidão de um único ser. Desse modo, precisamos nos manter com o amor do outro (o amor pessoal tem pouca serventia) e, assim, satisfazer o desejo de ser amado. Ainda assim, se manifesta de modo contraditório, sobretudo, porque “amamos o desejo, não o desejado”.
Inevitavelmente, a necessidade que nutrimos do outro nos faz seguir em buscas intermináveis daquela parte que nos completa. Guiados pelo instinto que quer realização, a busca nos põe em níveis distintos, diante de nós e do outro. Quando não encontramos o desejo, o amor, o ser que devemos amar, nem sabemos quando ou como ele virá, passamos a questionar todos os nossos sentidos e, com isso, nos envolvemos nas crises potenciais que existem em nosso interior. A negação do amor do outro é, então, a causadora de inúmeros desconfortos e tristezas.
            E o amor? O amor é egoísta e aquele que ama também é. Porque, conforme Nietzsche, todas as ações do amante são dirigidas para si mesmos, ou seja, o amor que nutrimos pelo outro é apenas amor próprio. O amante deseja tomar posse da pessoa amada e excluir o mundo todo e suas criaturas vivas, com indiferença e desdém, para possuí-la com exclusividade.
 O importante para todos é, indubitavelmente, encontrar o amor e se entregar a ele inteiramente, fortalecendo-o em si e no outro, cumprindo a finalidade da sua invenção – completar – a despeito de qualquer contradição que apresente, seja como um fogo que arde sem se ver, reconhecendo o que é a verdade, sendo cego ou cegando para que tenhamos uma visão muito melhor do outro, do mundo e, principalmente, de nós mesmos.

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