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Sejam bem-vindos a este espaço que eu criei para partilhar um pouco do que que chamo de minhas poesias. Espero que seja um lugar agradável e interessante para todos que o acessam. Boa leitura!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Dadá*



Dadá o olha e pergunta: - você já foi ao parque?
Ele responde: o parque está dentro de mim!
Fica longe? – continua ela.
- Minhas árvores estão plenas de liberdade, mas meus bancos continuam vazios.
Dadá olha curiosa e não entende o que ele queria dizer. Talvez houvesse um caminho a transpor. Um caminho desconhecido em seu trajeto e lânguido em sua essência. Essência repleta de lugares não ocupados e razões indefinidas – preciso parar um pouco em mim e descobrir o que há para conquistar. Dadá se impressiona com a descrição desse parque esquisito, mas cultiva a curiosidade de ir até ele. Inquisidoramente repete a pergunta: - fica longe? O homem olha-a nos olhos e cala por alguns instantes. Quando respira, consegue murmurar uma palavra apenas: delicadeza. E ao imaginar-se delicada, ultrapassa dentro de si mesma – outras tantas ainda desconhecidas.
Dadá tinha apenas nove anos e um milhão de desejos escondidos. Guardava em sim uma imensa vontade de voar, embora desconhecesse a liberdade contida naquele homem que escondia um parque num lugar somente seu. Dadá sempre quis ser pássaro e possuir sua inerente liberdade...
Quem sabe esse homem estranho pudesse lhe ensinar algum segredo? Quem sabe pudesse lhe mostrar algum caminho? Talvez ele apenas soubesse da construção de parques dentro de si.
Em verdade, mal sabia Dadá que aquele homem era mais um fruto de sua cautelosa angústia de vida. As suas palavras eram sorteadas dentro de um vocabulário sem capa e seus sentimentos inadequados a sua idade. Seu rosto apresenta um atrevimento adulto e sua pele... Sua pele já insinuava uma liberdade plena, longe das palavras não ditas nos seus momentos de arroubos. Ela não conseguia entender as tentativas de fuga do homem que lhe lançava em rosto tanta sutileza, como uma espécie de sentido inapropriado. Dadá não compreendia a relutância de um iminente sorriso. Era o que poderia oferecer diante das tantas aprendizagens que conseguira através da conversa com aquele ser tão distinto tão inadequado para uma criança. A importância daquele momento não era a idade deles, nem suas carências afetivas. O que definia aquele momento eram sua sutileza de poesia, sua virtualidade e sua realidade fina que cedia ao que é onírico. Dadá ainda era menina, mas descobriu na oferta de um riso – sua liberdade.  
*(Texto com co-autoria de Ivanilson Martins)

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