Preparava um tempero diferente.... quando Clarice saiu do quarto e me bateu ao rosto com uma violência extremamente severa, como se quisesse levar meu corpo à via crucis que construíra anos atrás.
- Clarice, não amola. O caldo está uma delícia!
Ela me surpreendeu por sua imensa força – a qual eu fiz questão de ignorar. Clarice então me bate e me leva consigo por caminhos que desconheço e me lança num precipício inimaginado e de onde jamais serei capaz de sair.
Clarice acha graça da minha dor e gargalha diante de mim como a criatura mais vil do mundo. E eu, imóvel e emudecido, nego a mim qualquer reação perante a rigidez de seu porte.
Ela desmatela minha hipocrisia e destrói todas as máscaras que construí para viver no mundo.
Na sua imensa fortaleza Clarice é também forte e capaz de mostrar as minhas profundas impurezas sem razão - e me fazer implorar:
- Pare!
Pedindo que deixe de remexer minhas vísceras ensangüentadas – para que as moscas não levem partes de mim.
É Clarice que desenha a noite e me lança àquele precipício que existe em mim, no lado mais obscuro da minha alma – que até agora consegui esconder.
- Fale o que quiser, Clarice! E me bata quantas vezes achar necessário. Mas o caldo continua gostoso.
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Espero que amanhã a dor ainda tenha graça.
2 comentários:
ela me deu uma barata de presente...
Ela também me deu uma barata, mais eu não comi.
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