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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Os dois objetos


Estava ali, em desalinho e febre. Ardia como em chamas, pelo medo, desejo talvez. Mas não partiria sem deixar a frase que insistia para sair: - Você é daqui? – disse finalmente. – Não, não – foi a resposta. Ele ficou desorientado e ainda mais desalinhado emocionalmente. Precisava de um suporte a fim de enfrentar com maturidade a negação.
Vestiu a roupa. Bebeu um copo d´água e olhou em volta. Muitos passavam pra lá e pra cá, no entanto, não notavam seu desespero.
Sentia dentro de si um formigamento, uma vontade de atacar qualquer objeto que fosse, visto que todos despertavam sua curiosidade.
O objeto maior acendeu lembranças de meses anteriores e ele sentiu o formigamento voltar, como se lançasse em si uma dose de êxtase. Queria compreender o que se passava, mas era inútil naquele momento.
Observou calmamente o ambiente, e, mais uma vez, tomou outro gole de água. Era preciso sentir mais um pouco e notar a freqüência de suas pulsações.
Fixou os olhos no objeto e o desejou.  Queria tocá-lo, senti-lo, tê-lo para si por algumas horas. Desejou apertá-lo, sufocá-lo e levá-lo consigo, para desfrutar de uma orgia simplista – onde objeto e desejo já estavam completamente definidos – num outro momento.
Ficou ali mais um momento e reconheceu que não teria coragem de caminhar até o objeto. Talvez a ânsia provocasse um acidente e ele viesse a quebrar., consumido pela  indiferença e confusão. Poderia tropeçar e despertar o riso. Talvez nem conseguisse chegar até lá. Sabia que era preciso partir.
Talvez o objeto lhe surpreendesse em outro momento.

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