Provoca-me certa angústia a
antecipação dos cabelos brancos antes da fase que tanto tememos: os
entas. Tudo bem que eu já estou na minha última etapa dos “inte”
e meus pés pulam, mesmo contra minha vontade, nos “inta”. A
juventude é assim – depois dos áureos dezoito ela se põe a
correr como em danação. Quando chegamos aqui, o desespero é uma
parte inevitável do processo, haja vista a necessidade de encarar a
vida com uma outra maturidade, que se ainda não temos, precisamos
buscar. Confesso que é a contragosto que lanço meu olhar no espelho
e me vejo assim pululando em cãs esbranquiçadas. Sei, porém, que
isso faz parte da mudança por qual passa o corpo no ritual
constante e enérgico da vida. Não que isso venha a sufocar a
existente mocidade verdejante e signifique a negação do seu status.
No entanto, sua presença vem como algo ameaçador se não estivermos
preparados para ela. Chegar aos trinta anos pode ser uma conquista ou
uma decepção – basta olhar para si mesmo e fazer as perguntas
básicas, as quais contemplam os ganhos espirituais, as conquistas
pessoais (em maturidade e moral também) e as realizações
profissionais. Além disso, pode-se olhar igualmente para o corpo e
perguntar se o físico contempla a idade. As afirmativas dessas
observações podem significar muito. Não tenho medo de ficar velho
nem de encarar as mudanças que a idade vai provocando – no
entanto, quero ter a consciência de que tanto o meu corpo quanto a
minha alma acompanham a maturidade desejada para entrar nesta fase.
Ainda tenho vinte e nove anos e sei que daqui a pouco estarei pisando
os “inta” com os dois pés. Meu anseio é, apenas, resistir às
exigências criadas por/para pessoas como eu. Afinal, o corpo pode
ser velho, mas a juventude é, também, um estado de espírito – e
este pode manter-se comigo até o dia que eu o desejar. Meus vividos
quase trinta anos foram de alegrias, bênçãos e dores necessárias
à construção da maturidade e do crescimento que fez a pessoa que
sou hoje. Obviamente, vivo com alguma nostalgia minhas reminiscências
e cultivo saudosismos de muitas épocas. Também arrependo-me de
alguns poucos erros/deslizes/transgressões (ou qualquer sinônimo
disso) cometidos em determinadas, mas tenho certeza que tudo foi
aprendizagem – e para mim aprendizagem, mesmo dolorosa enriquece a
existência. Carrego algumas marcas – as mesmas que expressam a
intensidade que vivi a vida até o dia de hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário