Quando abri a porta, ela já estava
partindo, calma e fria como sempre fora. Caminhava olhando para trás,
como se esperasse algum impedimento para sua fuga. Dava alguns passos
lentos e voltava a lançar um olhar longo e profundo na direção da
casa. Observando-a às escondidas, deixava-a partir pelo caminho
afora. Não poderia correr e gritar que ela parasse e, implorando que
ficasse, expressasse toda minha emoção através de longos e
carinhosos beijos em sua face, num gesto tão pueril quanto fraterno.
Nada passou de um tímido desejo, imaginando uma ação que eu jamais
seria capaz de realizar. Logo eu, que nunca demonstrei apego por
nenhuma criatura, por nenhum objeto que fosse. Ali, parado,
perscrutando meus próprios pensamentos, reconheci em mim, com uma
franqueza ímpar, a iniquidade do meu gesto. Misturada com a sensação
de natural impotência, uma lágrima rolou inconstante do meu rosto
como se fosse um apelo de perdão. Via-a afastando-se sempre mais de
mim, perdendo-se nas curvas do caminho, e eu continuava inamovível
em minhas fragilidades. A falta de profundidade e a cegueira para a
eternidade fora sempre a maior expressão das minhas
vulnerabilidades, mas, naquele momento, fora doloroso reconhecer.
Deixá-la partir solitária e muda na manhã fria, cortou-me o
coração. Vê-la partir diante da minha indiferença e fraqueza foi
uma dor que jamais esquecerei. Ela partiu. Até hoje, mantenho-me na
janela com os olhos atentos, esperando o milagroso momento de seu
retorno. Sei, porém, que ela nunca virá – e eu continuarei sem
saber se ainda vive ou se mantém-se andando naquele caminho sem fim
– e eu, eternamente incapaz de fazê-la deixar de seguir e
dizer-lhe que, a despeito destas fraquezas, tenho por ela um amor
infinito.
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