Os
dias são tão comuns. De manhã cedo, John Lennon abre o portão e
deseja que eu tenha um bom dia. Cabral mostra os mapas dos
descobrimentos, insistindo que eu bata as asas e alce voo para outras
paragens. Pessoa declama um poema na sala enquanto Anita pinta, nas
paredes, as cenas da minha infância e me faz chorar
desesperadamente. Dostoiévski descreve,
perfeitamente, minhas reminiscências, e alaga meu recinto de
nostalgias e saudades. No teto, a paisagem de Dalí me leva às
mesmas contemplações onde realidade e ficção se amálgama em
ideias e pensamentos, confundindo percepções e sentidos. Martins
bombardeia-me com epítetos e melopeias de suas novas construções e
eu, derretendo-me copiosamente, lanço suspiros fatigados de inúmeras
noites sem sono – é o sonho transformando em rochas todas as
minhas aquiescências. É a luminosidade perturbadora do cotidiano
que me mantém estático – tão estático quanto as minhas emoções.
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