De
manhã cedo, parou à porta. Esperava que se abrisse a fim de
realizar a entrega do pacote. Estava ali, quieta e muda sob o frio
congelante e desolador. Esperava, pacientemente, que alguém abrisse,
por dentro ou por fora, a porta que era o seu teste, a sua provação.
Aos poucos desanimava, vez ou outra, sorria – para aliviar a tensão
da espera. O pacote pesava-lhe nas mãos e o tempo passava sem que
qualquer sinal da presença de alguém surgisse. O vento frio batia
em suas faces como bofetadas. E a espera continuava dolorosa. De pé,
segurando o pacote, via o tempo passar indiferente aos seus sentidos
já tão massacrados pelo frio e pela angústia da espera. Ela sempre
achara que as expectativas, seja de quem fosse, deveriam ser
atendidas. Agora, sentia que as suas passavam despercebidas, uma vez
que a porta não se abria. Sentia o cansaço invadir-lhe devagar,
alojando-se nos braços, pernas, cabeça – até tomar-lhe por
completo. Aos poucos ia desiludindo-se de si mesma enquanto dores
seguiam dominando seu corpo. De cabeça erguida, tentava vencer a dor
e aquecer-se com o pacote que, lentamente, ia encostando-se ao seu
corpo e deslizando. Nada acontecia em derredor, exceto o soprar
sempre mais insistente do vento frio. Aos poucos ia pulsando o
coração na tentativa de resistir, mas percebia-se entregando-se,
morrendo, suplicando mentalmente um socorro. Nada acontecia. As
forças fugiam-lhe dos braços, as pernas se cansando – a entrega
completa. Era a morte se anunciando naquela manhã. A espera
terminava ali, com seu rosto frio e macilento colado na porta
fechada. Era a face da desilusão mostrando-se ao dia que terminava
ainda mais frio, com o vento uivando um sonido triste, pela espera
incompleta daquela que morrera ali, assassinada pela desilusão. É.
Um dia haverá apenas o brilho de estrelas novas a iluminar os céus.
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