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terça-feira, 8 de maio de 2012

A partida


Quando abri a porta, ela já estava partindo, calma e fria como sempre fora. Caminhava olhando para trás, como se esperasse algum impedimento para sua fuga. Dava alguns passos lentos e voltava a lançar um olhar longo e profundo na direção da casa. Observando-a às escondidas, deixava-a partir pelo caminho afora. Não poderia correr e gritar que ela parasse e, implorando que ficasse, expressasse toda minha emoção através de longos e carinhosos beijos em sua face, num gesto tão pueril quanto fraterno. Nada passou de um tímido desejo, imaginando uma ação que eu jamais seria capaz de realizar. Logo eu, que nunca demonstrei apego por nenhuma criatura, por nenhum objeto que fosse. Ali, parado, perscrutando meus próprios pensamentos, reconheci em mim, com uma franqueza ímpar, a iniquidade do meu gesto. Misturada com a sensação de natural impotência, uma lágrima rolou inconstante do meu rosto como se fosse um apelo de perdão. Via-a afastando-se sempre mais de mim, perdendo-se nas curvas do caminho, e eu continuava inamovível em minhas fragilidades. A falta de profundidade e a cegueira para a eternidade fora sempre a maior expressão das minhas vulnerabilidades, mas, naquele momento, fora doloroso reconhecer. Deixá-la partir solitária e muda na manhã fria, cortou-me o coração. Vê-la partir diante da minha indiferença e fraqueza foi uma dor que jamais esquecerei. Ela partiu. Até hoje, mantenho-me na janela com os olhos atentos, esperando o milagroso momento de seu retorno. Sei, porém, que ela nunca virá – e eu continuarei sem saber se ainda vive ou se mantém-se andando naquele caminho sem fim – e eu, eternamente incapaz de fazê-la deixar de seguir e dizer-lhe que, a despeito destas fraquezas, tenho por ela um amor infinito.

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