Num país
de alucinados pelo futebol, é muito difícil ser diferente.
Sobretudo, pela cultura machista que foi instaurada há muito e é
ensinada desde cedo aos pequenos. Não gostar de futebol significa
ausência de virilidade e isso põe a masculinidade de qualquer um em
dúvida, principalmente, numa região como a minha, onde ainda
sobrevive o mito do “cabra-da-peste”. Se ser macho é difícil,
no Nordeste pode ser ainda mais, uma vez que nutrem-se os ideais
provincianos onde macho é macho e fêmea é fêmea – não se
admitem variações. Negar o futebol é excluir-se de um grupo,
grande grupo. É um ato de coragem. Confesso que quando pequeno até
expressei alguma simpatia por tal esporte, afinal, qual criança ou
jovem não deseja ser aceito numa fase tão crucial de descobertas e
identificações? Pois bem, eu jogava futebol com os outros moleques
da minha idade – mas sempre soube que não me dava bem com a coisa.
Mas tudo era diversão e eu me alegrava com aquilo, quando a bola
entrava na trave e a galera gritava “gol”. Quando a gente vai
crescendo, cresce também a maturidade e a gente torna-se capaz de
assumir as preferências, a tolerar manias ou abandonar
comportamentos. Foi o que
aconteceu: o tempo me fez ver que futebol para mim não tem
importância alguma. E se não gostar de futebol for ausência real
de masculinidade, eu não sou homem; meus irmãos, pai, sobrinhos e
cunhados também não. Assumir que não gosta de futebol é um ato de
coragem. Lembro bem que um dia estava voltando para casa de ônibus,
e para minha sorte ou azar, era um coletivo cheio de torcedores que
estavam voltando de um jogo que havia terminado há pouco. No momento
em que entrei, um cara olha para minha roupa e nota as semelhanças
das cores que eu usava com a bandeira do seu time e me pergunta:
“Você torce pelo Sport?”. Eu, corajosamente, respondi que não e
que não gostava de futebol. Naquele momento esperei as vaias e os
comentários que minha resposta pudesse suscitar. Mas, ele apenas
calou – ainda que com ar de reprovação. Não sou contra quem joga
ou quem gosta de futebol. Na verdade, reconheço que praticar
esportes produz bem-estar e ajuda a desenvolver o senso de disputa, a
garra, determinação, e uma série de características boas que
ajudam o esportista a enfrentar a vida. O que recrimino no esporte,
principalmente no futebol, é a ação meliante de indivíduos que é
incentivada pelas torcidas des(organizadas),
propagando imbecilidades e fanatismos que não admitem derrotas – e
que se manifesta em atos de violência e barbárie no asfalto. Aos
poucos, o que há de bom nesse esporte, vai se amalgamando com os
atos da torcida despreparada – transformando valores em medos que
sufocam a sociedade nos dias de jogo. Não tenho vergonha de, como
homem, admitir que não gosto de futebol. Digo mais: cada vez que
noto a barbárie se instalando no estádio ou nas ruas, lanço sempre
mais, meu olhar de indignação e repúdio por tudo isso.
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